sexta-feira, 26 de março de 2010

Não sou o único...

“ A Mafalda Veiga tem essa benignidade de nos fazer mais humanos, de passar por si, como um filtro, as coisas que nos chegam já como alegria de estar vivo. Mesmo as coisas difíceis. Eu sei que as minhas paixões, como pela Mafalda, são intensificadas por esse lirismo estragador da poesia, mas prefiro estragar-me todo de amores a viver na inércia afectiva de não amar nada nem ninguém.”

Valter Hugo Mãe – poema para o Bruno Vitória, biografia imaginária in JL nº1028

quinta-feira, 18 de março de 2010

Árvore

Apareço por aqui para escrever sobre as últimas desventuras. O carro não voltou a avariar – boa – a chuva deixou de cair – great – a casa, aos poucos, vai ganhando o meu cheiro, o cheiro da minha terra, o cheiro dos caminhos que percorro quando não estou aqui, o cheiro do meu chão onde eu pudesse espalhar pequenas sementes que um dia, quem sabe, se tornassem raízes profundas como as da árvore que sombreia a casa que ainda é minha mas da qual agora só posso sentir saudade.
Olho através da janela e vejo árvores valiosas que aos poucos rejuvenescem com a chegada da primavera anunciada. Delineio as estórias de quem por aqui passou sem se dar conta destas fiéis espectadoras de enredos, tramas, romances… vidas que por aqui passaram, e já são muitas, e que fazem com que este local seja o que exactamente é, e não outro qualquer.
Os lugares são feitos pelas pessoas que os habitam e por todas as outras que os habitaram e que partiram, mas que permanecem na memória de alguns, ou no caso de uma simples árvore aqui plantada… quem terá plantado esta árvore? O que estaria a pensar quando a deu à terra? Lembrar-se-ia, por ventura, que a sua árvore iria viver muito mais tempo do que ele? Quem dela tomará conta? Quantos olharão para ela e a contemplarão como um monumento, um elogio à própria mãe natureza… o dia da árvore vem aí… e é com orgulho que digo que já plantei algumas!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Thought for the day...

A amizade não é como o petróleo, que é caro e se esgota e se vende em bombas self- service. A amizade é como uma torneira aberta, corrente de ar. Toma lá, aceita o meu presente, deposito-o nas tuas mãos, ajuda-me a merecê-lo.

José Luís Peixoto in JL 28 Janeiro 2009 (nº1000)

quarta-feira, 10 de março de 2010

Um poema que me ficou na memória dos bons velhos tempos...

S. Leonardo de Galafura


À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.


Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.


Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!


Miguel Torga in Diário IX

segunda-feira, 8 de março de 2010

Alentejo

A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...


Miguel Torga, 1974, in

"Antologia Poética"

quarta-feira, 3 de março de 2010

Pensamento do dia...

Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes; mas não aprendemos a simples arte de vivermos juntos como irmãos.
(M. Luther King)